- Adorni e Laje
- Gramsci
- Nossas Batalhas
- Doutrina Justicialista
1.
O ano de 2025 começa lentamente, e a LLA avança com força em sua agenda, alinhada com as influências de Agustín Laje e a batalha cultural em termos gramscianos. Entre as denúncias contra Lali e María Becerra, a campanha contra Milo devido ao trabalho de sua mãe na área de direitos humanos (a chamada “farsa dos direitos humanos” dentro dessa agenda cultural), e os comentários evidentemente provocativos do presidente sobre homossexualidade e pedofilia…
No debate sobre o REPROCAN, um jornalista sugere a Adorni que o consumo de maconha já está normalizado na sociedade. Adorni, horrorizado, insiste que o sistema será reformado para impedir “práticas que a lei atualmente proíbe e pune”, referindo-se ao uso recreativo da maconha. O próprio porta-voz presidencial compartilha fragmentos disso nas redes sociais. Esta é a agenda oficial da presidência, suas armas e movimentos na batalha cultural.
Adorni é um indicador do senso comum argentino? Recentemente, Trapé afirmou que, em sua perspectiva, hoje Fantino representa o centro ideológico da política argentina. Isso, claro, com base em uma análise do que a sociedade parece expressar, e não do que alguém pessoalmente acredita ou deseja. Isso é inegável, pois Milei é atualmente um presidente democraticamente eleito. Além disso, seu engajamento na batalha cultural é abertamente intencional. Neste momento, Laje ministra um curso intitulado “Liderança na Batalha Cultural” — um sinal claro de como a teoria política continua relevante.
Segundo Gramsci, os grupos econômicos atuam juntamente com os intelectuais, que consolidam sua influência na esfera social e política: “O empresário capitalista cria, juntamente com ele, o técnico industrial, o estudioso da economia política, o organizador de uma nova cultura, uma nova legislação” (Gramsci, 1986).
Os intelectuais atuam como organizadores e persuasores, não se apresentando como líderes, mas como “especialistas”. Participam de “tarefas subalternas na hegemonia social e no governo político, ou seja, fazem parte do consentimento ‘espontâneo’ dado pelas massas à direção imposta à vida social pelo grupo dominante” (Gramsci, 1986).
Sobre a espontaneidade, vale questionar como Gramsci conceitualiza o que chama de massas. Ele descreve a existência de uma “ciência popular” do “senso comum”, referindo-se a uma forma de perceber o mundo enraizada em determinados estratos sociais, que tem raízes históricas profundas e está teimosamente incrustada na psicologia de grupos populares específicos (Gramsci, 1977). Assim, é necessário estudar e analisar os elementos históricos da psicologia popular e, segundo Gramsci, educá-los “numa mentalidade moderna”.
O que parece ser um método friamente calculado de instrumentalização das massas parece ser o terreno de treinamento do movimento político que gira em torno de La Libertad Avanza.
Gramsci pergunta se a teoria moderna pode se opor aos sentimentos “espontâneos” das massas. Conclui que isso é impossível: a diferença pode estar no grau, mas não na natureza. Rejeitar o movimento espontâneo das massas é renunciar a liderá-las: “Elevá-las a um nível superior inserindo-as na política” (Gramsci, 1977).
O que Gramsci gostaria de incluir na esfera política é um sentimento específico que ele descreve como: “espontâneo, por não ser fruto de uma atividade educativa sistemática de um grupo dirigente consciente, mas sim formado pela experiência cotidiana iluminada pelo senso comum — ou seja, pela concepção popular tradicional do mundo, algo grosseiramente chamado de ‘instinto’, que também é uma aquisição histórica, primitiva e elementar” (Gramsci, 1977).
A espontaneidade faz parte da “história das classes subordinadas” que não se consideram importantes devido à falta de consciência. Quando se mobilizam, representam a possibilidade de direção consciente sobre o espontâneo, evitando uma espontaneidade mecânica que nunca é controlável. Não é mecânica porque não reproduz simplesmente uma abstração teórica; ao contrário, “O teórico deve identificar nessas peculiaridades a confirmação de sua teoria, ‘traduzir’ os elementos da vida histórica em linguagem teórica, e não o contrário, exigindo que a realidade se conforme a um esquema abstrato” (Gramsci, 1977).
O porta-voz presidencial é um farol, definindo o recorte da realidade com o qual se deve preocupar, ao mesmo tempo em que estabelece uma agenda que, embora inicialmente desdenhada como mero “pão e circo”, molda ativamente a realidade e terá efeitos concretos eventualmente.
O período pós-pico do que se rotula de “woke” serve como lembrete da humildade política que se deve manter. Não necessariamente a partir de uma ontologia hobbesiana, mas no reconhecimento da impermanência e do fato de que o pêndulo oscila entre períodos — de melhor ou pior qualidade de vida, de mais ou menos compaixão, dinâmicas que não se aplicam universalmente no tempo nem no espaço.
A política pode, sim, gerar medo, pois manipula sutilmente fios que podem transformar a realidade em um pesadelo para quem já não a percebe assim. Algumas táticas parecem ocultas, outras não. O que acontece na Patagônia deveria nos preocupar nacionalmente, e é justamente sobre isso que o Presidente escolhe se pronunciar ao julgar personagens famosos.
Os debates sobre a “malvinização” da história, o mapa antártico como nos ensina Rattenbach, o reexame contínuo da história nacional, a análise das condições dos trabalhadores argentinos por Garello, e a defesa da Patagônia são os verdadeiros debates identitários que deveriam orientar nosso foco. É hora de sair das divisões intermináveis e, em vez disso, engajar-se em um aprendizado coletivo sobre a história que nos une e nos direciona à proteção da pátria e do povo — conceitos que hoje continuam sendo objeto de disputa. Agora é o momento de organizar nossas fileiras e reativar nossos próprios debates, indo além das discussões sobre cargos públicos em Buenos Aires. Precisamos nos elevar acima disso.
O justicialismo se define como popular porque o Povo, o coletivo, é seu objetivo supremo. Ao mesmo tempo, é uma “filosofia de vida”, que prioriza os valores vitais sobre os racionais, a vida sobre a razão. O humanismo justicialista difere do humanismo renascentista: “O humanismo renascentista é essencialmente intelectual e especulativo; permanece alheio aos problemas cotidianos do Povo” (Perón, 2022).
O humanismo justicialista não é intelectual, não está separado da vida do Povo, é prático, concreto e parte de uma visão integral das pessoas: em sua condição de ser material, espiritual, individual e social. Perón critica Descartes, sustentando que o ser humano é muito mais do que uma coisa pensante, e critica Marx por ter negado o espírito. O princípio da comunidade é de harmonia entre opostos e isso inclui matéria e espírito, indivíduo e comunidade.
O pensamento justicialista difere significativamente das premissas gramscianas. Por um lado, elimina a divisão entre “homo faber” e “homo sapiens”, ou seja, entre trabalhadores manuais e intelectuais.
Um trabalhador é qualquer pessoa que realiza um trabalho socialmente útil e benéfico para a comunidade e, como tal, mantém uma meditação ativa e prática na resolução dos problemas cotidianos: “devemos admitir que é da própria vida — pensamento e ação — do trabalhador, de onde surgiram e surgem os conceitos fundamentais que impulsionam a humanidade” (Perón, 2022).
Em relação à cultura, a doutrina justicialista sustenta a visão aristotélica de que a realização humana não é possível fora da comunidade, pois do contrário, não se supera a condição de animalidade. Isso se opõe fortemente à visão individualista, ao egoísmo de buscar alcançar os próprios objetivos em detrimento dos outros, se necessário. O chamado primordial da doutrina justicialista na batalha cultural é a solidariedade, ou seja, agir considerando o próximo como um irmão ou irmã.
Se os elementos da cultura não forem acompanhados de elementos altruístas, serão elementos esclarecidos, capitalistas culturais, mas não cultos. Um inculto é aquele que não contribui com a sociedade que lhe permitiu se desenvolver.
“O moderno, que obedece às novas formas impostas pela evolução e pelas necessidades atuais, é uma ideia transformada em doutrina e ideologia, que o povo depois reveste de uma mística com a qual o homem tende a rodear tudo o que ama” (Perón, 1973).
Para Perón, assim como não se pode conceber uma pessoa sem alma, não se pode conceber um Povo sem doutrina. Ela dá sentido à vida e coerência às ações coletivas. É a base da educação do Povo:
“Para nós, organizar é doutrinar, porque a doutrina é o único líder que resiste à força destrutiva do tempo, e nós trabalhamos para o futuro” (Perón, 1973).
Trata-se de um trabalho de base, não imposto de cima para baixo. Ler um capítulo durante uma pausa, compartilhá-lo com um amigo, ouvir um companheiro produzindo conteúdo e, acima de tudo, escutar uns aos outros. Continuaremos nos encontrando no quiosque, provocando e debatendo, onde as vozes encontram seu espaço.
Referencias
Aristóteles. (2010). La Política. Buenos Aires: Ediciones Libertador.
Gramsci, A. (1986). La formación de los intelectuales. México: Juan Pablo Editor.
Gramsci, A. (1977). Escritos políticos (1917-1933). México: Siglo XXI.
Perón, J. D. (1973). La hora de los pueblos. Buenos Aires: Ediciones Presente.
Perón, J. D. (1974). La fuerza es el derecho de las bestias. Buenos Aires: Ediciones Síntesis.
Perón, J. D. (2022). Filosofía Peronista. Buenos Aires: Punto de Encuentro.